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A angustiante tarefa de decidir: uma reflexão a partir do existencialismo de Sartre, por Antonio Alexandre

O professor Antonio Alexandre traz uma reflexão sobre a angustiante liberdade de decidir e sobre as implicações das decisões.

Por: admin

- 02/12/2020 09h27

Antonio Alexandre Pereira Junior
Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá
Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Estadual de Maringá
Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho


A capacidade de decidir é uma das características do ser humano. Neste artigo, iremos refletir sobre a angustiante liberdade de decidir e sobre as implicações das decisões nas nossas vidas.


Fundamentamos nossas reflexões no existencialismo de Jean-Paul Sartre, um dos mais influentes filósofos do século XX, que considera a liberdade como uma característica fundamentalmente humana. Para este pensador, somente o homem possui liberdade para realizar escolhas. O homem na concepção de Sartre é movido pela percepção de que é livre para escolher “uma”, entre “uma infinidade de possíveis”.

Tal percepção sugere ideia de que ao exercermos nossa liberdade vivemos a experiência de apreensão, que para o autor é definida como angústia ou náusea. Inclusive para o leitor interessado em conhecer um pouco mais da obra de Sartre, “A Náusea” foi publicado em 1987.  

Sem querer parecer simplista, mas já sendo, vamos ao exemplo de uma pessoa que precisa decidir por uma, entre todas suas outras roupas, aquela que melhor se adequa a uma ocasião especial. Esta pessoa, provavelmente, experimentará algum nível de angústia. Pode, que esta angústia seja branda e a tarefa de escolher ocorra sem grandes dificuldades. Porém, é perfeitamente aceitável que esta pessoa se sinta insegura ao ser obrigada a escolher, uma, entre outras roupas, a mais adequada ou aquela que lhe trará mais conforto durante a ocasião especial. É perfeitamente plausível também, que esta pessoa considere escolher “não escolher” e que deixe de comparecer a ocasião especial. No entanto, o que observamos nesta situação é que estamos presos a liberdade de escolher.

Considerando o relato anterior, optando ou não por uma roupa para a ocasião especial, comparecendo ou não à ocasião especial, a pessoa escolhe. Assim, a angústia parece ser inerente às nossas escolhas. Ao que tudo indica, parece que além de estarmos presos à liberdade, somos também responsáveis por nossas escolhas.

A respeito da responsabilidade, o filósofo francês sugere que é justamente por sermos conscientes de estarmos presos à liberdade que desenvolvemos a responsabilidade. Assim, a partir do existencialismo de Sartre, podemos afirmar que vivemos cotidiana e constantemente em crises existenciais, algumas destas crises tem impacto maior em nossa existência, outras menor. 

Desta assertiva, outra reflexão é possível a partir das ideias do existencialismo. Quando escolhemos, nos responsabilizamos por nossas escolhas. Assim, segundo esta linha de pensamento, as pessoas não podem renunciar à liberdade de decidir pois, mesmo que decidam “não decidir”, estão decidindo.  Assim, todos estão condenados à liberdade de decidir, a escolher e ainda, são responsáveis por suas decisões.

Embora pareça estranho a quem nunca ouviu falar em existencialismo, pensar nossa liberdade de escolha e nossa reponsabilidade ao escolher é fundamental para que vivamos uma existência autêntica.

Muitas pessoas evitam a escolha como se estivessem se isentando da responsabilidade por suas vidas. É comum ouvirmos: “se eu pusesse faria assim”; ou a “a vida não me deu as mesmas oportunidades, por isto sou assim”; ou ainda, “como eu me casei cedo, não pude fazer o que gostaria”. Estas narrativas, assim como inúmeras outras, podem ser entendidas como uma tentativa de se desresponsabilizar por suas escolhas e a isto Sartre chama de “Má-fé”.

Para o existencialismo, existir é ter consciência de que toda e qualquer decisão tem impacto na nossa vida. Assim, é quando entendemos que é a consciência da responsabilidade de nossas decisões que tomamos as rédeas de nosso destino (SARTRE, 1997).

Finalizamos essas reflexões com a convicção de que uma pessoa pode se reconciliar com as partes negligenciadas de sua consciência para que possa renascer em uma nova perspectiva, apoiar e focar em suas intenções mais profundas. Sartre argumenta que a loucura de um indivíduo é perceber que não há nada fora dele que determine sua existência. Desse modo, o indivíduo descobre que o mundo só é humano devido à liberdade perturbadora de decisão e ação. Apenas sua liberdade. Nada mais. Sartre afirma, categoricamente que: Você é livre, então escolha.

Referência

SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1997.