Acontece na UniGuairacá
A fava de cumaru, por Guilherme Romani
Por: admin
- 30/07/2018 13h02Guilherme Romani Graduado em Gastronomia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná Especialista em Patisserie Contemporânea e Clássica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
O cumaru é uma semente encontrada no interior de um fruto, proveniente em maior parte da região norte do Brasil, e faz parte do grupo dos aromatizantes: dipterix vem do grego, uma classificação do gênero botânico referente à árvore, e odorata e o característico odor da semente (RÊGO, 2014). A existência de vários nomes causa confusão entre as pessoas que a utilizam, como o “baru” (Dypterix alata) uma castanha também chamada de cumaru, que é muito próxima da “fava de cumaru” (Dypterix odorata). A diferença entre as duas é a forte concentração de cumarina encontrada na fava de cumaru, classificando-a entre os aromáticos. Já o baru pode ser classificado como oleaginosa (MENDONÇA, 2008).
Fava de cumaru seca | Fonte: Fred Benenson, Aclose up shot of some Tonka Beans, 2007[/caption] A árvore pode atingir 30 metros. Seu fruto é uma vagem drupácea, monospérmica, com polpa fibrosa e esponjosa, comestível. A casca em tom avermelhado ou amarelo claro quase acizentado, levemente espessa, e a pele bem quebradiça que se desprende facilmente, com abertura do fruto no sentido longitudinal (figura 02), frutificando precocemente aos 4 anos de idade, nos meses de abril a julho. O fruto cai e abre com o impacto ao tocar no solo ou por roedores como morcegos, que dispersam as sementes (BRAGA, 1953). Tais sementes eram aproveitadas pelos índios da região, como na produção de colares, braceletes e outros enfeites utilizados como adornos, além de usarem na medicina para o aumento do fluxo menstrual, podendo ser abortivo, diaforética (provoca uma transpiração excessiva e intensa), preventivo na ocorrência de espasmos na bexiga, intestino e estômago e para tratamento de doenças cardíacas (HARRI, 2008). Seguindo com Harri (2008), como principais constituintes químicos os óleos essenciais, ácido graxo e cumarina que estão presentes em várias plantas como a amburana, guaco, canela, agrião e em frutas como morango. Destes óleos essenciais que provém seu aroma característico.
Fruto do cumaru com a polpa e a semente | Fonte: tonka bean uncertain, domínio público, 25 de abril de 2007
Atualmente os importadores da fava de cumaru são o Japão, França, Alemanha e China, sendo que a maior concentração do extrativismo no Brasil ocorre no Estado do Pará, com envolvimento de mais de 2.700 famílias, fazendo o seguinte fluxo: floresta, extrativistas, atravessadores, atacadistas do interior do estado, atacadistas da capital, indústrias e empresas de exportação. Sempre vendido na forma seca para a durabilidade do produto (NEPOMUCENO, 2006).
Uma sorveteria internacional utiliza o cumaru que leva o nome da fava em um dos seus melhores sorvetes, aromatizando o chocolate conhecido como “chocolate avec tonka fève” (MOVENPICK, 2015).
No Brasil há uma cervejaria que utiliza produtos típicos da Amazônia, no desenvolvimento de um estilo de cerveja, a “índia pale ale de cumaru”, cuja bebida é maturada no cumaru, tem cor alaranjada, final seco pelo lúpulo adicionado, e seu teor alcoólico é 5,7%, sendo vendida no Brasil e em várias regiões da Europa (BELTRAMELLI, 2014).
Apenas uma fava de cumaru tem poder de aromatizar uma medida de 2 litros de leite ou cremes bases na produção de doces, equivalendo em seu poder de aromatização meia noz moscada (Myristica fragrans) ou duas favas de baunilha (vanilla).
A Fava de Cumaru (Dipterix odorata), proveniente de uma árvore grande e nativa da região amazônica, com sua distribuição geográfica na Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Honduras, Peru, Venezuela e no Brasil, sendo que esta espécie ocorre nas seguintes unidades de federação: Acre, Amazonas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará e Rondônia (CARVALHO, 2009).
Segundo explana Harri (2008), são conhecidas internacionalmente como fava tonka, possuindo vários sinônimos regionais, pois na região em que é produzida pode ser chamada de fava de tanha, fava do cumaru, cumarurana, cumaru-verdadeiro, cumaru-amarelo, cumaru-de-folha-grande, muimapagé, champagne, cumaru-do-amazonas, cumbaru e cumaru-de-cheiro. Já nos países como na Venezuela e Colômbia é conhecida como “sarrapia”, nos Estados Unidos como “tonka bean” e na Alemanha “tonkabohne” (SOUZA, 2015).
As sementes são muito aromáticas, com cheiro adocicado, utilizado na perfumaria, em cosméticos e também em indústrias de tabaco, notas de esfumaçado, tabaco, cumarina e amendoado, adicionado nas preparações dando um belo efeito natural doce nas notas de fougère, de âmbar na classe dos orientais (OSMOZ, 2015)
A fava de cumaru é uma semente nacional, que é dificilmente encontrada nas casas especializadas, em alguns casos é denominada como um produto importado, levando o nome de “tonka” ou “tonka fève”.
Com a introdução do cumaru na área de desenvolvimento gastronômico e a consequente valorização do ingrediente, o produtor conseguirá buscar novas alternativas de vendas promovendo sua comercialização e deixando o preço justo.
É constante da ciência culinária a busca por sabores inovadores, com ingredientes nacionais adicionados a receitas tradicionais nacionais ou internacionais. Isso deve permear o mundo gastronômico, explorando possibilidades e valorizando produtos regionais.
Veja também
- Egressa de Odontologia da UniGuairacá recebe Prêmio Whiteness de Incentivo à Pesquisa em Clareamento
- Inscrições abertas para o 4º Encontro de Promoção da Saúde da UniGuairacá
- Inscrições abertas para Curso de Extensão em Cirurgia Oral Menor da UniGuairacá
- Inscrições abertas para a 8ª Semana Integrada da Gestão e Tecnologia: Inovação e Sustentabilidade
Guilherme Romani
Graduado em Gastronomia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Especialista em Patisserie Contemporânea e Clássica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
REFERÊNCIAS
BEZERRA, José R. M. V., Tecnologia de fabricação de derivados de leite, boletim técnico, Guarapuava, 2008.
BELTRAMELLI, Mauricio, As 100 melhores cerveja brasileiras, uma seleção para iniciantes e iniciados, 1ª edição, 2014.
BRAGA, Renato, Plantas do nordeste, especialmente do Ceará, editora imprensa oficial, 1953.
CASTANHO, Thiago, Conheça o cumaru, semente amazônica que caiu na graça dos chefs, disponível <http://gnt.globo.com/receitas/receitas/conheca-o-cumaru-semente-amazonica-que-caiu-na-graca-dos-chefs.htm> acessado dia 08 de novembro de 2015.
CARVALHO, Paulo R. E., Cumaru-ferro, comunicado técnico, colombo, PR, julho, 2009.
DAVIS, Anton B., Cálculo, editora: bookman, 2014.
FELIPPE, Gil, No rastro de Afrodite, plantas afrodisíacas e culinária, editora SENAC, 2004.
FRANCO, Ariovaldo, De caçador a gourmet. Editora: thesaurus, 1995.
FREIXA, Dolores, Gastronomia no Brasil e No mundo, Editora SENAC São Paulo, 2ª edição. 2012.
HARRI, Lorenzi, Arvores Brasileiras e Plantas Medicinais no Brasil, Nativas e Exóticas, Editado: Instituto Plantarum, 2008.
INN, Kelly, Carême, cozinheiro dos reis, editora: Jorge Zahar, 2003.
LUTZ, Adolfo, Analise sensorial métodos físico químico para análise de alimentos, 2008.
MENDONÇA, Aline L., Avaliação cinética de comportamento de componentes do baru (dipteryx alata vog.) para estudo da vida de prateleira da polpa do fruto, Categoria: tese e dissertação, 2008.
MONTEIRO, Cesar, Entremet, disponível <http://cesarmonteiro.com/site/entremet/> acesso dia 07/11/2015
MOVENPICK, Chocolate & tonka truffle, Disponível <https://www.moevenpick-icecream.com/ch/fr/gourmet/collections/Pages/Collections.aspx?Flavour=Chocolate%20%26%20Tonka%20Truffle&cate=CLASSICS> acesso 23 de setembro de 2015.
NEPOMUCENO, Denise L. M. G. O extrativismo de baru (dipteryx alata vog.) em Pirenópolis (GO) e sua sustentabilidade, categoria: dissertação, 2006.
OLIVERA, Ana Flávia de, Análise sensorial, 2010.
OSMOZ, share your fragrances, Cumaru, disponível <http://www.osmoz.com.br/enciclopedia/materias-primas/tabaco/189/cumaru> acessada 01 de novembro de 2015.
RÊGO, Lyvia J. S., Analise econômica da produção da amêndoa de cumaru e caracterização do seu mercado em Santarém e Alenquer, Pará, Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal, para obtenção do título de Magister Scientiae, 2014.
SEBESS, Mariana, Técnicas de confeitaria profissional, 3ª edição revista e ampliada, editora SENAC, 2014.
SENAC. DN, Sou Cozinheiro, tendências e informações para o aperferçoamento profissional, Rio de Janeiro, SENAC Nacional, 2011.
SOUZA, MICHELE, Médicos que cozinham, disponível <http://armazemdasespeciarias.com.br/2015/02/27/medicos-que-cozinham-peito-de-pato-ao-cumaru/> acesso dia 28 de outubro de 2015.
STRONG, Roy; Banquete, uma história ilustrada da culinária, dos costumes e da fartura à mesa, editora Jorge Zahar Editor, 2002.
SUAS, Michel, Pâtisserie, abordagem profissional, Editora: Cengage learning. 2012.
TEIXEIRA, Lílian Viana, Análise sensorial na indústria de alimentos, Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, Jan/Fev, nº 366, 64: 12-21, 2009.
TONKA, herbs e spics, tonka, disponível <https://bombayherbsspices.com.br/produto/ervas-e-especiarias/tonka/> acesso no dia 07 de novembro de 2015.
